sexta-feira, 12 de maio de 2017

Concrecoisa Medo


Siriel era medroso, desde pequenino.

Velhinho, contava rindo pelos cotovelos que tinha até medo do medo.

E foi escavando as narrativas soterradas nas camadas da memória de mais de nove décadas que ele acabou ficando sem medo.

E dizia bem alto, gozando com a cara dos outros...

– Zulina era da rua e tinha medo da rua.

– O policial Miridó corria do ladrão, tudo por causa do medo de tomar um balaço na fuça.

– A violência deixou Bitutu com medo multiplicado.

– O padre Lionilton tinha medo do falso cristão.

– Pertonino, que morava em situação de rua, fugiu para o mato, isso porque ficou com medo da cidade grande.

– Jupinaraci, a decana do bordel mais visitado da cidade, tinha medo de amar o cliente.

– Zé do Canhão, especialista em armamento, tinha medo de estourar uma guerra civil no Brasil.

– O cauteloso Galitanizo tinha medo de arriscar na vida.

– Viciado em analgésico, o médico Diritanoel acabou morrendo de dor.

Para Siriel, o medo de sofrer era o despertador para estancar o medo em si.

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