sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Concrecoisa Linha



A linha é a vida

Linha que parte

Como a vida, também

O novelo é a vida no começo

Porém, o novelo vira linha depois de percorrer o tempo-espaço, desenrolando-se

Então a linha alinha-se no eu

E, o eu, desalinha-se no outro

Já que todos são linhas

Umas alinhadas em outras linhas

Outras emendadas nos nós da dor

Linha que há de alinhar e desalinhar

A linha, que há, é a linha que há!

Como a vida; linha que vira horizonte!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Concrecoisa Calendário



A cidade dormia.

O vento uivava ao cruzar a esquina.

Alvorada!

E aquela pessoa agitada gritava sem parar...

– Cada dia com a sua agonia.

– Um dia de cada vez.

– Cada hora com os seus minutos.

– Um dia de cada vez.

– Cada dor com o seu remédio.

– Um dia de cada vez.

– Cada um com a sua cruz.

– Um dia de cada vez.

– Cada dia feliz para quem merece a felicidade.

– Um dia de cada vez.

Chegou o Natal.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Lançamento - Livro Concrecoisa - Volume 2



Hoje, dia 14, o livro Concrecoisa - Volume 2 ganha versão impressa.

Neste espaço virtual onde as concrecoisas nascem despidas de qualquer tipo de preconceito, sempre às sextas-feiras, o livro pede licença para dizer: existo!

E o que isso significa na prática?

Significa dizer que a tradição do livro permanece viva em tempos digitais e essa tradição convive pacificamente com as outras plataformas, com os outros suportes.

E como adquirir este objeto de papel que acaba de ser lançado?

Basta mandar um e-mail para 
rasec1963@gmail.com combinando a forma de pagamento e modo de entrega.

Pronto! 

O livro Concrecoisa - Volume 2 está lançado e ninguém foi “obrigado” a sair de sua casa para participar de um evento de lançamento.

Essa economia já paga o livro, que custa R$ 20,00. Os custos dos Correios são pagos separadamente, dependendo de cada lugar.

O lançamento foi ao seu encontro.

Obrigado por concrecoisar!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Concrecoisa Trama do viver



Nasceu rico.

Os pais morreram.

Achou que o dinheiro nunca ia acabar.

E foi gastando, gastando...

Quando completou 33 anos, viu que estava pobre.

Pensou em se matar.

Desistiu. Era frouxo.

Sem um tostão, foi mendigar.

Quando completou 40 anos, redescobriu o sorriso.

Naquele momento, não ter nada era ter tudo.

E tudo estava entre o presente e o futuro.

Assim, a trama do viver fez o porvir germinar em esperança e em certeza de poder sorrir.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Concrecoisa Segredo do outro lado



A chave vivia triste.

Certo dia, encontrou a fechadura d’uma porta velha.

E aceitou o convite para entrar naquele segredo.

Porém, continuou triste.

Do outro lado só tinha escuridão.

E foi embora...

Outra fechadura apareceu no seu caminho.

E abriu essa outra porta.

Mais uma vez, a tristeza não dissipou.

E seguiu nessa jornada de abrir e fechar portas.

Depois de muito tempo, já bem desgastada, a chave entendeu que a felicidade não estava no que havia do outro lado da fechadura, do outro lado da porta.

A felicidade estava no viver o estado de chave e não no abrir as cavernas dos dissabores que podem existir do outro lado de uma porta.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Concrecoisa Cochicho



A pedra mudou o destino da humanidade.

Foi instrumento de trabalho, pavimentou estradas e edificou cidades.

Com o tempo, erodiu.

A erosão virou o seu pranto.

Por causa desse pranto, as pedras no caminho passaram a cochichar todos os dias.

E foi vivendo...

E nesse viver, tem quem diga que o mármore está sentindo frio.

Tem granito que reclama do calor.

E tem as pedras mágicas, que são aquelas que viraram gente.

Por outro lado, tem gente que virou pedra.

E quem foi que virou pedra?

Não posso dizer, pois viver a coisa da matéria é castigo diante da grandeza d’alma.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Concrecoisa Paixão abissal



O amor

Fruto da paixão

Fez a luz

Adormecer

Na zona abissal

Que separa

O desejo

De ter

Para sempre

A metade

De mim

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Concrecoisa Verboroso



Ele falava muito...

Pelos olhos.

Pelos ouvidos.

Pelos poros.

Pelos gestos.

E também no agir dos outros.

Sua boca era um vulcão e a lava o discurso em si.

Palavras, palavras, palavras...

Seu discurso mistificava as massas.

Mas ele morreu.

Chegou o silêncio.

Agora o vento joga poeira em sua lápide.

E a frase “Aqui jaz um loquaz” vai aos poucos desaparecendo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Concrecoisa Índio Astronauta



O espaço infinito era um eterno convite para o Índio Astronauta viajar pelo desconhecido.

O mar de lágrimas chamava-o para pescar corações de paixões errantes.

Entre o espaço infinito e o mar de lágrimas, o Índio Astronauta tocava na sua flauta mágica a música da liberdade.

E bebia vinho tinto na taça de Dionísio.

Certo dia, cansado da rotina, resolveu adormecer nos braços de Morfeu.

E se entregou...

Desde então, a realidade vestiu o manto da fantasia.

E o Índio Astronauta, em metamorfose, aproveitou para sempre o sonho da esperança.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Concrecoisa Amatração



O sol atraiu a lua.

O vento atraiu a nuvem.

A onda do mar atraiu a areia da praia.

A vogal atraiu a consoante.

A gravidade da Terra atraiu a massa.

O verbo atraiu a ação.

O núcleo do átomo atraiu o elétron.

A luz atraiu a cor.

O dedo atraiu o anel

O óvulo atraiu o espermatozoide.

O poeta atraiu o verso.

O músico atraiu o som.

Buda atraiu a meditação.

Jesus atraiu o renascimento.

A paz atraiu a esperança.

E depois de tudo, a atração fez-se amor!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Concrecoisa Tempestade de lágrimas



Chove lágrimas.

Só lágrimas.

Dos meus olhos.

Dos teus olhos.

Dos olhos dos outros.

E depois de tanto choro.

A terra, o ar e o mar amanheceram inundados.

Cessada a tempestade de lágrimas.

As caravelas do amor voltaram a navegar em liberdade.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Concrecoisa Discórdia



Caim matou Abel.

Conta a Bíblia.

A rixa entre os homens mora no passado, desde sempre.

Hoje, a desavença ferve em Pindorama.

Tudo por causa do poder.

Caim renasceu.

E passou a amar Abel.

São os ecos da Era de Aquário.

O amor venceu.

A felicidade vingou-se do poder.

E Pindorama viveu novamente em paz.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Concrecoisa Tolices



Tudo começou quando Zion chegou ao poder.

Ele impôs que todos olhassem o mundo como costumava olhar.

E todos obedeceram.

Os anos passaram.

Nasceu Noiz, um ser diferente dos demais.

Noiz cresceu e quis olhar o mundo de outra forma.

Passou a ser perseguido.

Sua luta contra a tolice do radicalismo era diária, pois todos agiam igual a Zion.

O radicalismo já estava incorporado naquela sociedade opressora.

Nasceram outros Noiz.

O radicalismo aumentou.

Depois de 40 anos no poder, Zion morreu.

Os milhares de Noiz comemoraram, pois sabiam que a tolice do radicalismo estava sepultada.

E a bandeira da esperança voltou a tremular naquele país arruinado pelo retrocesso.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Concrecoisa Por onde ir?



Caiu num labirinto como um meteorito que cai na terra.

E não sabia como sair desse lugar.

Arriscou ao caminhar por um lado.

Depois foi por outro caminho.

E assim foi tentando, tentando, tentando...

Certo dia, por instinto e já cansado das tentativas frustradas, seguiu o caminho traçado pelo vento que corria por um dos corredores do labirinto.

E quando menos esperou, já estava em liberdade.

Aquele vento que assobiava a frase “a saída é aqui ao lado”, na verdade, era a chave para encontrar a liberdade em qualquer situação.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Concrecoisa Guisa



Encontrou a paz sozinho.

Abraçou o vazio da solidão.

Comeu feijão com farinha e carne seca com as mãos.

Beijou os inimigos.

Jogou fora os sapatos novos.

Tocou fogo nos documentos que tinha.

Estudou a mistificação das massas pela propaganda política para não ser mais um imbecil.

Foi sempre assim...

Sempre à maneira de seu instinto.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Concrecoisa Wittgenstein



Ela falou o que não sabia.

Ele repetiu o que não sabia.

Ela replicou.

Ele também.

Todos acabaram falando aquilo que não sabiam.

Certo dia, alguém calou.

Calou sobre o que não sabia.

Ela resolveu calar.

Ele também.

Os demais acompanharam o silêncio dos pares.

Depois do ocorrido, o sereno da noite abraçou a filosofia.

E a lógica encontrou a razão no silêncio do infinito.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Concrecoisa Louco solto


Ele era louco.

Ele estava solto.

Ouço ele falar.

Pouco fala o louco.

Um louco solto.

Ouço o último louco.

Todos loucos.

Todos soltos.

Ouço todos.

Silêncio!

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Concrecoisa Desencadeado



Vivia feliz numa caverna.

O fogo imitava o sol.

Não era louco.

A caverna simulava o mundo.

Certo dia, resolveu conhecer o que tinha do lado de fora.

A primeira coisa que encontrou foi um cadeado aberto.

Voltou para a caverna.

Chorou...

Estava desencadeado para o resto da vida.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Concrecoisa Sabedores



Ela nunca amou ninguém.

Foram muitos desejos que passaram por sua sombra.

Ela só queria viver o momento do encontro com o outro.

Quando confessou para si mesma que não amava ninguém porque entendia que o amor encarcerava a liberdade, sentiu que a pontinha do amor queria semear o seu destino.

O corpo estremeceu.

Combateu o desejo de amar migrando para o deserto.

Sozinha, semeou a liberdade com a alma do amor, que é a liberdade de se entregar ao outro.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Concrecoisa Começo, letra “E”



Para existir, tem que nascer.

Para escrever, tem que conhecer as palavras.

Para entender, tem que usar o cérebro.

Para evitar, tem que ter prudência.

Para esquecer, tem que perdoar.

Assim a letra “E” começa uma palavra e faz história.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Concrecoisa Papel de cada um



Ele amassou aquele pedaço de papel.

Com versos sobre a dor.

Depois jogou fora.

Fez isso porque a mistificação da dor.

Pelo verso descartado.

Era o que alimentava a vontade de viver.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Concrecoisa Cheiro da saudade



Ele voltou à cidade natal para colher a poeira do tempo vivido.

Num dos bancos da praça onde costumava se reunir com os amigos, leu um poema escrito com um prego, assinado com as iniciais ACSS, que dizia:

“O cheiro traz saudade

De quando eu era criança

O café torrado num tacho

O tempo perdido, lembrança

Tudo aquilo que eu fui

No prazer de cada aroma

O cheiro da terra molhada

Da chuva com sua esperança

E o cheiro de tudo que fica

Guarda a memória sem fim

O passado volta em mim

Na delícia de cada cheirinho

Única saudade que embala

A vivência de cada um

Somos voo de passarinho

Cheiro, saudade, jardim”

Depois do último verso, seus olhos marejaram.

Em seguida, uma explosão de alegria tomou conta daquele momento especial.

E o cheiro da vida semeado pela saudade d’alma ficou impregnado naquela carne marcada pelo tempo.

A poeira continuava suspensa no ar.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Concrecoisa Degrau por degrau



Na escada da vida

Cada degrau é ensinamento

Na escada da vida

Cada degrau é recado do tempo

Na escada da vida

Subir e descer os degraus são circunstâncias do momento

E no silêncio do degrau

A liberdade fecunda a esperança de subir ou de descer

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Concrecoisa Folharte



Ventava forte.

As folhas de uma amendoeira não resistiram.

Abraçaram o chão.

E choveu durante dias.

Depois o sol deu o ar de sua graça e distribuiu carinho, com calor.

Uma das folhas gostou de cortar o ar e abraçar o passeio.

Os dias passaram.

O amor impossível vingou.

A folha gostou daquele lugar onde os passos apressados das pessoas eram uma espécie de canto da rotina da vida na cidade.

Depois de uma semana, a folha deu o último beijo no passeio e foi embora no caminhão do lixo.

Como recordação, deixou a marca daqueles dias de amor.

A cor que tinha, quando dançou pelo ar até cair no chão, ganhou nova tonalidade.

E ficou no passeio o registro cromático do que passou a ser.

A vida daquela folha agora é obra de arte da natureza.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Concrecoisa Ponto de apoio



A pedra da dor bateu no coração.

O vento do amor fez uma rosa dançar em Hiroshima.

Tudo ao mesmo tempo.

Diante d’um ponto de apoio.

Ponto que fica vendo a vida pender para um lado, o mais pesado.

Enquanto a realidade balança conforme a circunstância.

A fantasia faz tudo girar.

Menos o ponto fulcral de cada instante.

A pedra não é vento.

E o amor pode virar dor.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Concrecoisa Luzamor



Escureceu.

E ele continuava iluminado.

Amanheceu.

E ela continuava iluminada.

Aquela luz intensa vivia dentro de todos.

Sempre irradiante, ela iluminava a vida.

Desde então, ninguém deixou de sentir a felicidade.

E a luzamor fez de si um sol.